Pamonha

Duas vezes ao dia, quase todos os dias, passa um carrinho de som na minha rua anunciando:

- Pamonha, pamonha, pamonha.

A voz do narrador é daquelas beeeeem nasais. E cada vez que o carro vem descendo a rua, Luiza para o que estiver fazendo e fica prestando atenção.

Sempre achei que ela adorava, já que poucas coisas fazem com que ela perca a concentração na brincadeira ou na Xuxa.

Mas ontem o carro parou exatamente em frente ao meu prédio, o que fazia parecer que ele estava praticamente na área de serviço. Luiza levantou do chão com uma "espada" de legos em uma mão, colocou a outra mão na cabeça e gritou:

- Ô homem chato, meu Deusu! Fala demais, Jesusu. Noxa Xinhora!

E eu que nem sabia que ela já sabia rezar sozinha, descobri que ela até já percebeu que, em certos momentos, é impossível não dizer santos nomes em vão.

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