Toda terça-feira tenho aula no doutorado. Uma matéria isolada tão delirante que eu não resisti. E esse é o único dia em que a Luiza fica com a minha mãe na parte da tarde.
Na última terça ela resolveu não dormir depois do almoço. Minha mãe, numa tentativa de que o sono viesse por livre e espontânea pressão, fechou a porta do quarto e deixou-a perambulando enquanto fingia que dormia.
Alguns minutos de silêncio e, de repente, um choro. Mamãe abriu os olhos e viu que ela estava encostada na beradinha da cama. Com as mãos para trás, e aos prantos, ela perguntou:
- Vovoinha, quem abriu a porta?
Minha mãe respondeu logo:
- Qual porta Luiza? A porta está fechada!!!
E ela:
- Não vovó, ESSA porta! (E mais lágrimas.)
Como ela estava com as mãos atrás do corpo, minha mãe logo olhou para parede branca e estática atrás da Luiza. Na mesma hora fez uma oração interior pedindo à Jesus e aos Santos que vieram na cabeça para fechar qualquer porta imaginária que faça chorar, já que criança é tão sensível a coisas "sobrenaturais". Mas sua prece foi interrompida:
- Vovóoooo, quem abriu essa porta????????
- Qual porta Luiza? Me mostra qual porta! - A essa altura calafrios já havia percorrido o corpo da vovó.
E a Luiza se vira de costas, aponta para o bumbum e fala já brava (mas ainda chorando):
- Essa porta AQUI vovoinha!
Minha mãe chega mais perto - já que tinha tirado os óculos para a frustada tentativa de dormir - e descobre a porta. A PORTA. Mas tem um ataque de riso tão intenso que meu pai vem ao quarto saber porque a neta chora e a avó ri (sim, Luiza ainda tava chorando. E agora, além de chorar, já estava brava com mamãe). E minha mãe tem que respirar fundo para conseguir contar para papai só o final dessa história:
- Mô, Luiza acha que o buraco no short dela chama-se porta!